How to Hitchhike

Contos da estrada: EUA

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“Este é um bom lugar,” disse à Lauren.

A longa e reta estrada que se alongava muito além de nós estava repleta de árvores mas ainda assim havia muito espaço dos dois lados para os carros encostarem e pararem para nós. Um fluxo contínuo de veículos se arrastava ao longo da estrada num dia sem vento. Placas e placas dos frequentadores do festival, todos a caminho de casa.

Nós paramos. As florestas tinham nos fornecido sombra enquanto caminhávamos de volta do festival de música. Nenhum de nós estava pronto para enfrentar o calor de 40°C de Tennessee - nossas roupas estavam suadas e grudadas de calor e não era nem de tarde ainda. Ainda assim, ao menos nossa caminhada havia chegado ao fim. Largamos nossas mochilas alguns metros da estrada e bebemos nossas águas avidamente. Alguns motoristas olhavam com interesse. Não que houvesse algo para olhar.

Eu procurei pela placa que havia feito no acampamento - um pedaço destroçado de papelão escrito “COLORADO” em letra de fôrma. Assim que eu a segurei em minha mão eu senti a familiar sensação surgindo em meu corpo - uma grande aventura estava prestes a começar.

“Vamos tentar fazer tudo em uma só viagem,” eu disse.

Fedorentos, sujos e de ressaca, nos pusemos de frente ao tráfego e levantamos nossos dedões.

Todos estavam de bom humor e o tráfego estava tão lento que pudemos conversar com as pessoas por alguns minutos, antes que elas passassem por nós. Nós ríamos, zoávamos e trocávamos histórias. Muitas pessoas nos deram suas guloseimas que sobraram: chocolate, garrafinhas d'água, cerveja e uma melância gigantesca. Todas vez que viámos uma placa do Colorado nos apressávamos e abanávamos. Mas os motoristas só sorriam e davam de ombros - todos os carros estavam cheios. Eles queriam nos levar, eu podia ver. Era só uma questão de achar alguém que pudesse..

“Nós levamos ela, mas não você!” gritavam ironicamente dos carros.

“Nós podemos levar você até Nashville,” algumas pessoas ofereciam com mais seriedade.

Um poderia nos levar por 650km até St. Louis.

“Obrigado, mas vamos fazer em uma só viagem,” disse, e acreditava pessoalmente. Nós estamos em um lugar tão bom, como poderíamos falhar?

Uma hora e quatro placas de Colorado depois, alguém acenou para nós da janela.

“Vocês sabiam que há dois caras mais atrás na estrada pedindo carona para o Colorado também?” o motorista disse.

Lauren e eu nos olhamos. A chance de um carro estar indo até o Colorado era plausível - mas dois era impossível.

“Obrigado por nos contar,” nós respondemos.

Lembrei-me que nossos amigos caroneiros não tinham como saber de nossa existência nem saber que estávamos tentando uma carona há mais tempo que eles. Mesmo assim, nossa má sorte era frustrante. Nós colocamos de lado a plaquinha e decidimos aceitar a próxima carona para Nashville.

Nossos rivais, dois caras de Denver, caminhavam pela estrada em busca de um lugar melhor para pedir carona, então os chamei. Era meio dia, mas já estávamos exaustos após algumas horas de pé no sol. Nós caminhamos para longe da estrada e ficamos confortáveis na sombra da floresta. Eu cortei em fatias a melancia que nos tinham dado e comemos os quatro na sombra das árvores. Nossos espíritos estavam bem apesar do fato de nenhum de nós ter arranjado uma carona ainda. Conversamos sobre as esperanças que tínhamos para nossa jornada a frente, compartilhando histórias das nossas viagens já feitas e falhamos em perceber que o tráfego constante havia diminuído. Quando finalmente retornamos à estrada, uma hora depois, quase todos já haviam retornado do festival. O tráfego havia secado completamente.

Sem problemas. Nós decidimos caminhar até a próxima estrada para tentar pegar o tráfego que não era do festival também, nossos novos amigos ofereceram caminhar até mais além na estrada, para podermos pegar a primeira carona - uma oferta que eu gratamente aceitei. Quando chegamos a próxima estrada, no entanto, já havia uma fila. Três mendigos estavam esperando a 5 metros do melhor lugar para os carros pararem. Eu não poderia crer na nossa má sorte. Depois daquele dia eu nunca vi nenhum outro caroneiro na estrada. Neste momento já havia visto cinco - e isso era pra ser ilegal no Tennessee. Caminhamos na direção dos mendigos por alguns minutos até os passarmos. De repente eu senti um ar mais frio, olhei para o céu - havia nuvens de tempestade se aproximando.

Nosso novo ponto era terrível, uma posição vulnerável no meio de uma encruzilhada de quatro pistas. Nós não podíamos continuar pela estrada sem entrar na free-way e não podíamos retornar sem competir uma carona com os mendigos. O sol já havia desaparecido e Lauren estava começando a perder as esperanças que encontraríamos uma carona. Já havia passado três ou quatro horas e uma chuva forte parecia inevitável. Eu estava começando a perder a fé também.

Havia começado a chover há um tempo quando o carro da polícia encostou. O policial nos encarou enquanto puxava o pesado freio de mão do carro e eu comecei a refletir o quão frágil realmente era minha permissão de turista nos EUA. Mas antes que o pânico pudesse se alastrar, o policial deu meia volta e desapareceu dentro de um escritório-reboque. Meu confuso alívio foi trocado por um pânico mais intenso ainda, quando eu percebi que estávamos pedindo carona próximos a um centro policial móvel, montado para o festival. Lauren e eu devíamos parecer um casal tão miserável, pensei, que os policiais de Tennessee achavam mais prazeroso nos assistir sofrer do que nos prender por infringir a lei.

Finalmente, um carro parou - um jovem sozinho.

“Onde você está indo?” eu disse. Eu não ligava, nós iríamos entrar no carro de qualquer jeito.

“Nashville” ele disse. Perfeito.

Written by
Chris Drifte
Chris Drifte
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Translated by
João Roque Sieczkowski Mônaco
João Roque Sieczkowski Mônaco
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